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JORNAL RÁDIO CORREDOR, AGOSTO DE 2001 "OS ODORES DA BOCA"

OS ODORES DA BOCA
Cida Morais e Dilene Ferreira

Você tem mau hálito? Se a resposta for sim, não fique envergonhado ou constrangido, pois você não está sozinho. Estima-se que 30% da população têm o problema, mesmo sem perceber. Existem mais de 50 causas diferentes que, se diagnosticadas e tratadas, podem colocar um fim aos odores desagradáveis exalados pela boca.


A cirurgiã dentista Jacqueline Chaves Duarte Palhares, especialista em halitose (nome científico dado ao mau hálito) explica que 90% dos casos têm origem bucal. Uma das causas mais comuns é a diminuição na quantidade de saliva, que facilita a formação da saburra lingual, uma camada bacteriana esbranquiçada que adere à parte superior da língua, provocando o mau cheiro. Outras causas de origem bucal são os problemas periodontais (na gengiva), má higiene e cáries profundas.
Também são causadores da halitose doenças como a rinite, sinusite, diabetes e prisão de ventre, além do uso de certos medicamentos. O stress, taxado como doença do homem moderno, é outro fator importante. As pessoas estressadas reduzem o fluxo salivar, provocando o ressecamento da mucosa da boca e a conseqüente formação da saburra lingual.

O fato da pessoa ficar muito tempo sem se alimentar também facilita o aparecimento do mau hálito, mesmo naqueles indivíduos que não têm a halitose crônica. Isso porque, o organismo entra em hipoglicemia e, assim, cai o nível de açúcar na corrente sangüínea, dando início a um processo de queima de gordura que libera gases malcheirosos.O ideal é que a pessoa se alimente em intervalos de no máximo quatro horas.
Entre as mais de 50 causas do mau hálito, nenhuma está relacionada ao estômago que, durante muito tempo, foi apontado injustamente  como o grande vilão da halitose. "Isso não passa de um tabu", comenta a cirurgiã-dentista.

Tratamento ao alcance de todos
Hoje em dia existe tratamento para o mau hálito e só continua com o problema quem quer”, garante Jacqueline Palhares, ressaltando que há até um aparelho (o Halimeter) que mostra se o paciente é portador da halitose e em que grau. O importante é diagnosticar a causa. Se o problema estiver relacionado à diminuição da saliva, o tratamento é feito à base de medicamentos e orientações para aumentar o fluxo salivar. Se for provocado pela má higiene bucal, nada como uma boa sessão de limpeza dos dentes.  Se, por outro lado, a halitose tiver como origem alguma doença específica, um especialista da área saberá indicar o tratamento adequado. Fazendo a correção indicada, o odor desagradável desaparece.

Normalmente, o portador do mau hálito não sabe que tem o problema porque se acostuma com aquele cheiro constante. As células do nariz entram em processo de fadiga olfatória e o portador nem se dá conta do mau cheiro. "Normalmente as pessoas ficam constrangidas em tocar no assunto, mas estariam prestando um favor ao portador da halitose em alertá-lo, porque ele, com certeza, desconhece a existência do problema", ensina a cirurgiã-dentista.  E, para as pessoas que suspeitam estar com mau hálito, Jacqueline tem um receita muito simples: "Perguntem a uma criança, que sempre é muito franca."

"Denúncias" pela Internet
Milhares de pessoas, em todo o Brasil, já receberam recomendações para tratamento do mau hálito após terem sido “denunciadas” à Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas dos Odores da Boca (ABPO). “Você não precisa ficar constrangido para informar ao seu amigo que ele tem mau hálito. A ABPO faz isso por você”. Com esta mensagem, a entidade vem prestando um serviço, pela Internet, que consiste em comunicar  pessoas que sofrem desse problema.

O serviço é gratuito e funciona da seguinte forma: quem quiser fazer uma "denúncia" envia à Associação os dados do portador da halitose (nome, telefone, endereço, e-mail) através site www.abpo.com.br. A entidade manda, pelo Correio ou pela Internet, uma carta ao denunciado explicando a necessidade de tratar o mau hálito. O nome de quem faz a denúncia é mantido em sigilo.
Além de comunicar o portador de mau hálito, a idéia é estimular as pessoas a procurarem tratamento. Na carta, a Associação também se mostra disposta a fornecer ajuda para indicar um profissional.  Jacqueline Palhares aprova o serviço e afirma que ela mesma já foi procurada em seu consultório por pessoas que foram "denunciadas" pela Internet.

Algumas medidas simples e práticas podem evitar o mau hálito. Confira:

  • Higiene bucal - Boa escovação, uso correto do fio dental e visitas periódicas ao dentista.
  • Escovar a língua - Existe até um aparelho com esta finalidade. São os raspadores linguais, que ajudam a remover a placa bacteriana.
  • Alimentação saudável - Quem já tem pré-disposição ao mau hálito deve evitar o consumo de alimentos condimentados (cebola, alho) e aqueles que contém muito enxofre, como brócolis, couve, couve-flor, alcachofra e repolho. Deve-se evitar, também, alimentos muito ricos em proteínas: carnes, leite e ovos. Às vezes, a simples mudança de hábitos alimentares pode resolver o problema.
  • Frutas cítricas - Ajudam a aumentar o fluxo salivar. Laranja, limão, Kiwi, abacaxi e morango são algumas indicadas
  • Lazer e atividades físicas - Ajudam a combater o estress.
  • Água - Recomenda-se tomar pelo menos dois litros por dia
  • Evitar o uso de bebidas e cigarros - Eles provocam o ressecamento da mucosa da boca, o que aumenta a descamação de células que irão funcionar como alimento para as bactérias do mau hálito.