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JORNAL ESTADO DE MINAS, 29 DE MAIO DE 2000.
"O PROBLEMA DO MAU HÁLITO"
Dra. Jacqueline Chaves Duarte Palhares*

"... O PORTADOR DO MAU HÁLITO acaba sendo discriminado em seu próprio grupo social..."
Os casos de halitose não podem ser explicados por um único mecanismo. A halitose tem mais de 50 causas que precisam ser bem investigadas e tratadas. Aproximadamente 90% dos casos têm origem bucal. Uma das causas mais comuns da halitose é a diminuição da quantidade de saliva, favorecendo a formação de uma placa bacteriana esbranquiçada na parte posterior da língua (saburra lingual).

A saburra é formada por restos alimentares e bactérias anaeróbias proteolíticas que se alimentam das células epiteliais descamadas, também presentes na saburra. Neste processo ocorre a liberação de compostos de cheiro desagradável (composto sulfurados voláteis-CSV), produzindo mau hálito.

A halitose se deve a vários possíveis motivos (causas primárias), que podem induzir a formação de saburra por xerostomia (diminuição do fluxo salivar). Se o objetivo é a cura da halitose, a causa primária da cada paciente, individualmente, precisa e deve ser investigada. Tratada a causa primária, a condição secundária (diminuição salivar; saburra lingual e mau hálito) desaparece.

São causas primárias: uso de alguns tipos de medicamentos, stress, ansiedade (causam diminuição da quantidade de saliva), má higiene bucal, cárie, problema periodontal, amigdalite, sinusite, cáseos, adenóide, hipoglicemia, prisão de ventre, diabetes, alterações hepáticas, pulmonares, renais, intestinais e outras. A halitose não é somente causada por problemas locais, mas pode também ser um indicador de desordens sistêmicas sérias.

Existem 3 tipos de pacientes: 1) O que apresenta hálito e desconhece o fato (o indivíduo não percebe o seu próprio hálito porque está acostumado a ele. Quando o odor é constante, ocorre fadiga olfatória e por esse motivo não é percebido). As pessoas estariam prestando um favor ao portador da halitose em avisá-lo. 2) Paciente apresenta hálito e sabe. 3) Paciente reclama da hálito, mas não tem.

Hoje em dia já existe tratamento para o mau hálito e até mesmo um aparelho (Halimeter) que mostra se o paciente é portador de mau hálito e em que quantidade. Existe também o teste de fluxo salivar, para medir a quantidade de saliva. O importante é diagnosticar o mau hálito, descobrir a causa e fazer o tratamento. Para o sucesso do tratamento, todas as orientações dadas pelo profissional ao paciente devem ser rigorosamente seguidas.

O mau hálito é um problema sério que tem solução e deve ser tratado, pois a sua repercussão psicológica e social é devastadora. O portador do mau hálito acaba sendo discriminado em seu grupo social. A halitose agride as pessoas que convivem com o portador, que começam então a se distanciar dele. O parceiro afetivo começa a evitar uma maior aproximação.

Quando o portador da halitose sabe do seu problema, ele fica inseguro e frio em seus contatos. Ele passa a ser discriminado em seu trabalho e na suas relações afetivas. O paciente com halitose tem maior predisposição a gastrite, amigdalite, pneumonia, periodontite e outras doenças (à medida que a saburra se forma, ela passa a ser um meio propício também à instalação e à proliferação de microorganismos patogênicos cuja porta de entrada é a boca). Posteriormente, estes microrganismos poderão se instalar no sulco gengival (causando doença periodontal), nas amígdalas (causando amigdalite), nos pulmões (causando pneumonia), no estômago (caso do Helicobacter pylori, causando gastrite). Ao se tratar a saburra (e o hálito) estamos prevenindo o possível aparecimento de outras doenças sistêmicas, que têm como porta de entrada a cavidade bucal.

* Cirurgiã-dentista